sexta-feira, fevereiro 25, 2005

terra de sonhos


no coração de orion escondem-se as novas. longe dos olhos. estrelas. bêbadas de azul. um céu dentro do céu. emoções. sentires. gestos dos deuses. ternos afagos.
terra de sonhos.

mário contumélias

domingo, fevereiro 13, 2005

emoções - primeira lição

1.
as emoções voam em ciclos
prendem-se aos retratos em silêncio
espreguiçam-se na memória quietas
escondem-se no segredo das lágrimas
sempre são alegria quando as vemos
tão distantes e serenas escorregam
nos anos já vividos demoram-se
esperam ser revisitadas... há quem
as guarde numa arca para quando os dias
forem longos há quem as gaste logo e
nada deixe para depois.


2.
ah! as emoções... fazem sempre chorar
sobretudo quando cheira a romãs e a noite
se fecha sobre o próprio ventre à espreita
do propício momento são flores numa velha
jarra mas não fenecem nunca recusam-se
a murchar antes ganham cor patine
[acho que é assim que se diz patine]
vestem-se de luz e sombra disfarçam-se
com a roupa de outros tempos lavam a cara
deitam fora as rugas avermelham os lábios
rescrevem na face o rubor antigo.


3.
sabem tudo da música conhecem o pudor
das palavras mais secretas dançam nuas
nos corredores quando os gatos adormecem
coleccionam silêncios gestos impensados
pequenos objectos imprestáveis papeis
amarelecidos e dobrados discretas
disfarçam-se nas datas mais difíceis às
vezes cheiram a mar outras à lânguida
terra que a chuva possuiu reconstroem-se
renovam-se são assim as emoções
quando a serenidade nos deixa olhá-las perto.


4.
outras vezes não outras vezes
tomam-nos de assalto há mesmo
quem soçobre feche os olhos
e parta para o longe é então
que elas se revelam na sua forma
de aves sibilinas rompem o espanto
rasgam as veias predizem o futuro
exalam odores que pensáramos perdidos
sussurram em desconhecidos idiomas
mas logo se aquietam é esse
o seu ofício a quietude.


5.
ah!, as emoções...

mário contumélias

as casas

as casas cheiram às mulheres
que nelas vivem é um cheiro
subtil e demorado, matriz de ternura
e de saberes, de nascimentos e de mortes
um cheiro que fica nas gavetas
e envolve quem as abre, que marca as paredes
pontuadas de retratos, de tiquetaques
de histórias de família ...
os homens passam pelas casas, viajantes
sem passado nem futuro, buscando o território
no corpo das mulheres, nos lábios e nos dedos
com que sábias elas os encantam e devoram.
eu nasci da árvore que era minha avó
e agora busco a tua sombra... procuro-a
na casa que tem o teu cheiro. és tu!

mário contumélias